segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Intimação


                                                           


Aos quarenta e cinco anos fui intimada pela vida a mudar.
Intimada, não convidada. Não me perguntaram se eu queria a mudança ou se me sentia preparada para ela...
Tive que mudar: ou fazia isso, ou adoecia.
Adoeci. Tive crises hipertensivas, gastrite, depressão – tudo por que não aceitei a mudança, por que não “digeri” as decepções...
Depois de um ano e meio me debatendo, “remando contra a maré”, veio o cansaço: cansei de sofrer, de lutar contra as circunstâncias que eu não poderia modificar... e  então eu me rendi: “Ok, eu aceito!” Aceito que “perdi” essa batalha (compreenderia mais tarde que às vezes perder é na realidade ganhar), aceito que nem tudo é como a gente quer, que não sou “onipotente” para mudar as pessoas à minha volta, nem a realidade. Entendi que só posso mudar a mim mesma... e comecei a mudança!
A partir do momento que entendi isto tive momentos de paz – de uma paz que não significa ausência de lutas, mas que advém da consciência tranquila de quem sabe que fez o melhor, sabe que lutou, que amou, perdoou, que fez o que podia –  e se mais não fez é por que não sabia, é por que não estava ao seu alcance naquele momento... e quem disse que a paz é um lago tranquilo?
Sigo buscando essa paz, tentando torná-la perene...
Sigo construindo-a dentro de mim, dia a dia, tijolo a tijolo e às vezes em meio a lutas – parece um paradoxo, mas não é!
Tento agora me conhecer melhor. Foram tantos anos voltada para fora de mim... Tantos anos focada nos estudos, no trabalho, na família, no outro...  tantos anos sem saber ao certo de que eu gostava, o que eu queria de verdade, o que me fazia feliz, quais eram os meus projetos – só meus...  sem depender do outro, sem viver os projetos do outro... Por que abrimos mão de tantas coisas para viver um casamento? Por que não entendemos que pela saúde do casamento, para o bem estar do casal,  cada cônjuge deve continuar a ter seus projetos pessoais (desde que estes não coloquem em risco a relação), gostos diferentes, prazeres a serem desfrutados a sós – o casamento não nos funde num só!
E quando achamos que sim então vivemos uma ilusão...
Aprenderia mais tarde o valor da liberdade consentida, da liberdade que não é a ausência de compromisso, mas sim a oportunidade de ser aquilo que se é, de ter o seu próprio espaço, de saber dizer “não”... aprendi que muitas vezes um “não” omitido torna-se mais tarde um grito irrefreável.
A vida nos impulsiona para frente – quer queiramos ou não!
O progresso é lei. As mudanças fazem parte da dinâmica da vida... algumas a gente planeja, escolhe, realiza de bom grado... outras não – mas todas contribuem para o nosso crescimento.
Precisamos estar abertos à elas, recebê-las, aceitá-las, vivê-las plenamente a fim de que realizem em nós aquilo de que necessitamos...
Aprendi que o primeiro passo para a mudança é a aceitação – enquanto não aceitamos os fatos tais como são, enquanto "brigamos" com a realidade, não conseguimos aprender as lições que as novas situações vem nos trazer...  AceitAÇÃO – a ação consentida, consciente, que somos capazes de realizar quando aceitamos a vida sem brigarmos com ela...
Aos quarenta e cinco fui intimada a mudar!  
Chorei, sofri, lutei, esperneei, cansei, deprimi, aceitei, reagi, realizei... e continuo realizando pequenas mudanças a cada dia.
Bendita vida que nos permite mudar... que nos permite recomeçar, fazer diferente, cair, levantar e prosseguir!
Quando receberes da vida uma ”intimação”, não fuja, não tema – aceita e agradece, caminha e realiza, por que Deus tem estradas onde o mundo não tem caminhos e, na Sua Infinita Sabedoria, na lógica perfeita com que conduz as nossas vidas, guia-nos pelas experiências necessárias ao nosso crescimento e à nossa libertação.

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