Aos quarenta e cinco
anos fui intimada pela vida a mudar.
Intimada, não
convidada. Não me perguntaram se eu queria a mudança ou se me sentia preparada
para ela...
Tive que mudar: ou
fazia isso, ou adoecia.
Adoeci. Tive crises
hipertensivas, gastrite, depressão – tudo por que não aceitei a mudança, por
que não “digeri” as decepções...
Depois de um ano e meio
me debatendo, “remando contra a maré”, veio o cansaço: cansei de sofrer, de
lutar contra as circunstâncias que eu não poderia modificar... e então eu me rendi: “Ok, eu aceito!” Aceito que
“perdi” essa batalha (compreenderia mais tarde que às vezes perder é na
realidade ganhar), aceito que nem tudo é como a gente quer, que não sou
“onipotente” para mudar as pessoas à minha volta, nem a realidade. Entendi que
só posso mudar a mim mesma... e comecei a mudança!
A partir do momento que
entendi isto tive momentos de paz – de uma paz que não significa ausência de
lutas, mas que advém da consciência tranquila de quem sabe que fez o melhor,
sabe que lutou, que amou, perdoou, que fez o que podia – e se mais não fez é por que não sabia, é por
que não estava ao seu alcance naquele momento... e quem disse que a paz é um
lago tranquilo?
Sigo buscando essa paz,
tentando torná-la perene...
Sigo construindo-a
dentro de mim, dia a dia, tijolo a tijolo e às vezes em meio a lutas – parece um
paradoxo, mas não é!
Tento agora me conhecer
melhor. Foram tantos anos voltada para fora de mim... Tantos anos focada nos
estudos, no trabalho, na família, no outro...
tantos anos sem saber ao certo de que eu gostava, o que eu queria de
verdade, o que me fazia feliz, quais eram os meus projetos – só meus... sem depender do outro, sem viver os projetos
do outro... Por que abrimos mão de tantas coisas para viver um casamento? Por
que não entendemos que pela saúde do casamento, para o bem estar do casal, cada cônjuge deve continuar a ter seus projetos
pessoais (desde que estes não coloquem em risco a relação), gostos diferentes, prazeres a serem desfrutados a sós – o casamento
não nos funde num só!
E quando achamos que
sim então vivemos uma ilusão...
Aprenderia mais tarde o
valor da liberdade consentida, da liberdade que não é a ausência de compromisso, mas sim a oportunidade de ser aquilo que se é, de ter o seu próprio espaço, de saber dizer “não”...
aprendi que muitas vezes um “não” omitido torna-se mais tarde um grito
irrefreável.
A vida nos impulsiona
para frente – quer queiramos ou não!
O progresso é lei. As
mudanças fazem parte da dinâmica da vida... algumas a gente planeja, escolhe,
realiza de bom grado... outras não – mas todas contribuem para o nosso
crescimento.
Precisamos estar
abertos à elas, recebê-las, aceitá-las, vivê-las plenamente a fim de que
realizem em nós aquilo de que necessitamos...
Aprendi que o primeiro
passo para a mudança é a aceitação – enquanto não aceitamos os fatos tais como
são, enquanto "brigamos" com a realidade, não conseguimos aprender as lições que
as novas situações vem nos trazer... AceitAÇÃO – a ação consentida, consciente,
que somos capazes de realizar quando aceitamos a vida sem brigarmos com ela...
Aos quarenta e cinco
fui intimada a mudar!
Chorei, sofri, lutei,
esperneei, cansei, deprimi, aceitei, reagi, realizei... e continuo realizando
pequenas mudanças a cada dia.
Bendita vida que nos
permite mudar... que nos permite recomeçar, fazer diferente, cair, levantar e
prosseguir!
Quando receberes da
vida uma ”intimação”, não fuja, não tema – aceita e agradece, caminha e realiza,
por que Deus tem estradas onde o mundo não tem caminhos e, na Sua Infinita
Sabedoria, na lógica perfeita com que conduz as nossas vidas, guia-nos pelas
experiências necessárias ao nosso crescimento e à nossa libertação.
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