quinta-feira, 20 de junho de 2013

O impacto positivo da morte

                                        



Esta semana fui impactada por uma notícia: a morte de uma pessoa querida...  
Era alguém a quem eu admirava - via-a como uma pessoa vitoriosa, bem sucedida, com uma elegância natural  que é difícil encontrar por aí... não a elegância de uma roupa bem talhada, de um acessório fino - não! Era a elegância das atitudes, do falar, do expressar! Quando a via tinha a impressão de estar diante de alguém que lutou e venceu! E que tinha uma paixão pela vida, uma alegria, uma energia muito boa.
E de repente, não mais que de repente... ela se foi!
É certo que havia alguns problemas de saúde, mas nada que nos fizesse suspeitar que na semana seguinte ela não estaria ali conosco, no grupo a que pertencia e no qual era tão importante!
A vida é tão fugaz...
E nós, que vivemos como se não fossemos morrer, somos "intimados" em alguns momentos a encarar de frente a finitude, a impermanência!
Lido bem com a morte, por que sei que a morte como o fim absoluto não existe - eu não "acredito" nisto: eu SEI!
Sei que a morte não passa de uma passagem para um nível superior de vida e consciência, como escreveu certa vez uma amiga espiritual, ou no dizer do grande Fernando Pessoa, sei que "a morte é a curva da estrada. Morrer é só não ser visto"... então por que fiquei tão impactada?
Para além da saudade que fica, a morte repentina nos remete a outras reflexões... por que nos dá a dimensão de que o imprevisível nos sonda e nos espreita e que pode chegar a qualquer momento - para nós ou para o outro!
"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"... grande inspiração de Renato Russo, que me vem à mente para expressar o que me povoa a mente nesse momento de reflexão...
Diante do impostergável, do inadiável, do fatalismo da morte que nos leva a atravessar a aduana para o "lado de lá", deveríamos repensar a vida!
Quantas coisas tão pequenas e insignificantes nos irritam, nos desgastam, nos fazem sofrer!
O que elegemos por prioridade?
O que temos feito por nós mesmos, como temos nos cuidado?
Estamos demonstrando todo amor que sentimos? Ou ficamos "guardando" para um depois que pode não chegar?
Fiquei muito impactada! 
Não por que a morte me assuste mas por que percebi que tenho que pegar as rédeas da minha vida nas mãos...
Não dá mais para viver na filosofia do pagode "deixa a vida me levar"!
Não dá mais para ficar na indecisão!
Cada minuto que passa é precioso... e como desperdiçamos as horas!
Quero usar bem o tesouro do tempo. Quero mudar. Metamorfosear.
E ironicamente a morte é a grande metamorfose! É o "grand finale" - o momento de ganhar asas para voar!
Mas há muitas transformações possíveis e necessárias antes do grande desfecho... mudanças que nos farão viver melhor, que nos farão mais alegres, mais sintonizados com a dinâmica da vida... mudanças que podem nos curar!
Quanto mais vivo mais me convenço que a vida é um caminho que se caminha só. Nascemos sós. Vivemos sós e morremos sós.
Os outros são "presentes" de Deus que aliviam nossa solidão - mas não pensam nem sentem por nós! Nem podem nos fazer mudar - esse trabalho é nosso!
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"...
Quero vivenciar essa dor... e essa delícia também!
Quero rir dos meus furos, chorar com minhas tristezas, emocionar-me com as pequenas alegrias que a vida me dá... quero dançar na chuva, quero andar descalça, ver o pôr do sol... quero contar as estrelas, me esquentar numa fogueira, cantar com amigos, chorar de rir... quero viver a vida de maneira intensa, sem deixar para amanhã!
Quero descobrir que posso ser só sem ser triste, que o outro pode caminhar muitas léguas comigo e um dia, simplesmente,  não querer mais!
Quero lidar bem com a ingratidão, pelo simples fato de não esperar gratidão alguma!
Quero me sentir capaz de resolver cada problema, encarar os desafios e dizer: eu posso!
Mas quero também perdoar sem dificuldade minhas fragilidades, minhas incoerências, minhas incongruências... por que estou em construção, em constante aprendizado!
Não tenho idéia de como realizar... rs
Sei que é preciso começar e que isto não será "promessa de ano novo".
Quem sabe realizar uma pequenina mudança por vez e quando ela estiver sólida, incorporar outra. Mas quero sentir que estou agindo, mudando, me adaptando ao que não puder modificar... crescendo!
Não quero me sentir à toa na vida esperando a banda passar!
Quero ir com a banda. Quero tocar um instrumento!
E se não puder tocar um instrumento, quero dançar!
E se não for possível dançar, quero caminhar... mas não ficar na janela!
Sei que a vida é um presente maravilhoso de Deus.
E sei também que ela não termina com a morte... mas termina um ciclo, um estágio que deve ser bem aproveitado por nós.
A saudade de quem dobra a curva da estrada fica. Mas fica também sua história, seu exemplo, sua inspiração.
O tempo suaviza.
O tempo que é o grande remédio e também o grande juiz.
A morte  causa um impacto - é fato.
Por mais espiritualizados que sejamos, por mais certeza da continuidade, por mais consciência de que a vida é um ciclo... então, que este seja um impacto positivo, que nos impulsione a viver melhor  e  amar a vida... até o dia de "mudar de fase"!


PS: Tenho certeza da continuidade da vida, por isso sei que um dia essa pessoa querida lerá esta página e sorrirá ao perceber que a sua passagem por aqui e o seu retorno - no tempo certo e aprazado - proporcionou reflexões tão importantes, para mim e estou certa que para outros também...








3 comentários:

  1. Sylvia, sábias palavras e lindo texto. É fato que resistimos às mudanças, que tendemos sempre a nos acomodar como se tivéssemos todo tempo do mundo. E às vezes, os pequenos ou grandes impactos que vivemos, é a mola propulsora para que façamos essas mudanças, tão necessárias para nosso aprimoramento. Continue sempre nos presenteando com suas palavras, e, para quem te conhece, sabe que não são apenas belas palavras, mas que são acompanhadas de um belo exemplo também.

    ResponderExcluir
  2. Muito profundo!
    Tenho certeza que muitas pessoas ficariam satisfeitas com estas sabias palavras, e que também ao meu ver é pura poesia. Não tive condição de estudar em universidade e nem consegui terminar o segundo grau, perdoe-me meus erros de português, mas tudo que você escreveu é perfeito. E só por isto vou pegar meu carro encontrar uma praia com areia bem extensa e caminhar até eu ficar cansado. Valeu!

    ResponderExcluir