quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Despedidas


                                              


A finitude nos surpreende... por que nunca nos acostumamos a pensar nela, a encararmos o fato de que somos findos – nós e todos à nossa volta... e tudo!
A dor da despedida de alguém que amamos é imensurável...
Ficamos a pensar que nunca mais teremos aquela presença... Como viver sem que nossos olhos encontrem aquele olhar? Sem ouvir aquela voz, aquele riso?Sem sentir aquele perfume? Como não receber mais o carinho de quem amamos?
Ficamos a recordar todos os momentos, bons e ruins, em que tivemos aquela pessoa  ao nosso lado!
A morte é uma experiência impactante, não há como negar... por que apesar de ser a única certeza da vida (a de que um dia vamos morrer), nunca nos sentimos preparados para ela...e para a dor que vem junto!
Por uma questão cultural a morte é associada ao fim. Entretanto, o maior Mestre da Humanidade morreu e retornou, ressurrecto, para mostrar-nos de forma inequívoca que a vida continua!
Encontrei ao longo de minha vida uma maneira suave para lidar com ela – essa grande “dama” que chega e nos convida a uma mudança que não desejamos!
Francisco de Assis chamava-a carinhosamente de “irmã morte”... por que sabia que ela não era ruim, que era de fato um acontecimento natural, uma passagem que nos conduzia a uma vida melhor.
Sim... a uma VIDA melhor!
Por que a vida continua... não no corpo inerte que fitamos cheios de dor e pesar... mas para o espírito que se liberta qual passarinho, cuja gaiola foi finalmente aberta!
Foi no estudo da Doutrina Espírita, e na vivência proporcionada por ela, que compreendi com tranquilidade a morte... e consegui ver até mesmo beleza nesse momento extremo, nessa passagem que a todos aguarda.
Sei que dói. Já vivi isto diversas vezes para saber o quanto dói. Mas a certeza que tenho na vida que segue, as experiências que já tive com os espíritos, as situações vivenciadas ao longo da vida, me permitem dizer que há beleza nessa passagem, nesse momento final... é um "parto às avessas"!  Assim como nascemos sendo esperados com todo amor, tendo médicos e enfermeiros a auxiliar em nossa chegada, também na partida há uma equipe que nos ajuda no desligamento, que nos assessora no retorno à Pátria Espiritual... e há amigos e antigos amores nos aguardando com alegria!
Nós porém, em nossa limitada percepção, só conseguimos ver o que se passa aqui. 
Já me emocionei muitas vezes ao ver filhos se despedindo dos pais... pais dando adeus a seus filhos naquilo que nos parece uma inversão absurda da cronologia natural...
Lembro-me do quanto me emocionei ao ver a despedida de duas amigas de uma vida inteira, desde muito jovens...  e na velhice uma delas foi chamada à Vida Maior... lembro-me do olhar da amiga que ficou, observando o corpo inerte da companheira de tantas alegrias e dores...
Também já tive os olhos marejados de lágrimas ao ver velhos casais se despedirem após longos anos de convivência... algo que está ficando cada vez mais raro!  E a exemplificação maior de amor e desapego veio de uma senhora amiga, também já desencarnada, no enterro de seu amado esposo, quando fui falar-lhe algumas palavras de conforto e ela me disse: “Melhor assim... ele não saberia viver sem mim!” ... e também quando ouvi de uma outra senhora, bem idosa, cuja irmã com quem morava (as duas moravam sós) falecera: "Agradeço a Deus por que ela foi primeiro... se fosse eu ela sofreria muito!"
Ah... o amor! Quando ele se reveste de desapego, de renúncia, de perdão, quão mais belo fica!
O que fica de todas estas cenas tristes do último adeus?

O Amor! Simplesmente o amor!
Este sentimento que nos une, que nos liga uns aos outros, ainda que tenhamos tantas diferenças, que sintamos e pensemos de forma opostas!
E a grande descoberta que fiz nesta vida é esta: o amor verdadeiro cria laços indissolúveis! Não importa a distância, não importa se os nossos olhos não alcançam, se nossas mãos não tocam... o amor nos une, nos liga de forma indelével!
E se formos capazes de aguçar nossos sentidos (especialmente nosso “sexto sentido”), perceberemos vez que outra a presença daqueles que amamos... ouviremos sua voz... sentiremos seu perfume... seu abraço... ouviremos sua voz!
Ah... como eu gostaria de poder dizer a todos que amo que a vida é linda, que a morte é a outra face da vida, e portanto linda também!
É o repouso do guerreiro... é o momento de fazermos o balanço de nossa existência, e seremos felizes se pudermos dizer, como Paulo de Tarso em sua epístola a Timóteo: "Combati o bom combate. Terminei a minha carreira. Guardei a fé"...  é o alegre despertar para novas experiências... é o delicioso reencontro com antigos amores que nos antecederam na marcha!
Peço sempre a Deus serenidade nesses momentos. Para mim e para aqueles que estão realizando a grande travessia.
Que nesses momentos doídos de despedida possamos nos lembrar que estamos todos de passagem... e guardar em nós a certeza do reencontro, por que o amor é um fio invisível, que nos liga e nos une para a eternidade...
Quando temos certeza da imortalidade, as despedidas "finais" deixam de ser um "adeus"... para se tornarem um sereno e calmo "até breve"!





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