terça-feira, 22 de maio de 2012

Suavidade



Vivemos num mundo estressante, com muitos desafios e muitas exigências: trabalho, estudos, trânsito, violência, dificuldades financeiras, preocupações familiares... tudo concorre para nos deixar num estado de angústia e ansiedade!
Basta correr os olhos à nossa volta para percebermos o quanto estamos “doentes” – a sociedade adoeceu... o tempo parece escoar por nossas mãos e as exigências são tantas! Algumas nos são impostas, outras nós mesmos as criamos...
Vivemos num mundo competitivo, que muda a cada instante (a mídia está aí para nos informar e difundir estas mudanças!), e temos que literalmente CORRER para acompanhar tudo isto, para “dar conta”.
E nessa correria vamos nos perdendo de nós mesmos... vamos esquecendo de nos observar, nos conhecer... vamos deixando de separar o “joio do trigo”, o secundário do essencial, o supérfluo do necessário...
Se não estivermos atentos vamos ao sabor das ondas, levados pela maré... e vamos nos esquecendo como é ser cordial, como é praticar pequenos atos de gentileza, de renúncia, de generosidade... vamos nos esquecendo de expressar carinho, afetividade, gratidão... vamos perdendo a suavidade!
Estamos sempre com pressa! Correndo  e desejando que os ponteiros do relógio parem um pouco, para que possamos ter mais tempo... Mas como se a cada dia assumimos mais compromissos, a cada ano estabelecemos novas metas quando ainda nem demos conta das antigas? Como se estabelecemos tantas "prioridades" nos esquecendo do que é de fato primordial em nossas vidas?
Gosto muito daquela música do Renato Russo, que nos lembra de forma poética e numa melodia gostosa de que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”...
Estamos perdendo muita coisa na correria da vida!
Perdemos alguns pores do sol maravilhosos... perdemos a alegria de parar em frente ao mar só para admirá-lo, ouvir suas ondas... perdemos a capacidade de olhar nos olhos do nosso vizinho, do nosso cônjuge, do nosso irmão, e com um sorriso sincero desejar um “bom dia”... perdemos a oportunidade de brincar com nossos filhos, de passear de mãos dadas com quem amamos... tudo por que não temos tempo! E sobretudo, na correria, na pressa do dia a dia,  perdemos a suavidade.
O homem perdeu-se de si mesmo, e nesta confusão em que se encontra, num labirinto de desejos, de emoções às vezes contraditórias, ele “tranca-se” em si mesmo: não partilha seus problemas, não divide suas alegrias. E por que pensa que o outro não se importa, por que teme que o outro não compreenda, muitas vezes é ríspido, é insensível... às vezes polido, educado... porém frio!
A suavidade anda sumida... há tempos que não a vejo, por que todos tem pressa, todos falam alto, todos exigem seus direitos, acham-se com a razão... e esquecem que podemos ser suaves ao defender nossos pontos de vista, porém firmes – uma coisa não exclui a outra!
        Jesus é o maior exemplo de suavidade e firmeza! Quando estava de mãos atadas, na presença do sumo sacerdote e apanhou do soldado romano, que lhe esbofeteou a face, ele indagou – sem agressividade, sem elevar a voz – “Por que me bateste?”
        Quantos de nós por muito menos nos descontrolamos? Nos desequilibramos quando algo não sai como planejamos, somos agressivos e nos iramos com frequência, quando seria muito melhor mantermos a calma. A agressividade, a ira, a impaciência não contribuirão em nada para amenizar a nossa frustração, para melhorar a situação.
       Temos que encontrar o endereço da suavidade... e nos “encharcarmos” dela a fim de nos desestressarmos! Temos que conquistar a afabilidade e a doçura, deixar que façam parte da nossa vida, do nosso dia a dia...
        Não é fácil andar na companhia dessas duas "moças" – é preciso desacelerar, é preciso ter tempo para amar, para refletir, para viver!
        Não é uma conquista fácil, mas sem dúvida vale muito a pena, por que, afinal de contas, quando formos brandos, mansos, afáveis – quando formos suaves – nada mais nos desequilibrará, por que a suavidade e a brandura, antes de se espraiarem de nós estarão em nós, brindando-nos com sua companhia e dando-nos tranquilidade nos embates da vida!

        

domingo, 6 de maio de 2012

Desapego - um difícil exercício!




Desapego – que difícil exercício em nossas vidas!
Muitas vezes nos apegamos a coisas, situações, pessoas, pela idéia equivocada de que aquilo nos pertence, pelo costume que se formou, pelo medo do novo, do “desafio do desconhecido”... sem nos darmos conta da transitoriedade da vida, do quanto tudo é fugaz  - queremos o tempo todo  negar a  impermanência!
Assim também em nossos relacionamentos. Como é difícil amar com desapego, com total consciência de que o outro não nos pertence, não é “nosso”, mas sim um companheiro de jornada que naquele momento está escolhendo caminhar conosco...  isso vale para todos os que caminham conosco: pais, filhos, amigos, namorados, cônjuges, parentes...  Acontece que a vida é dinâmica, de repente as coisas mudam e  podemos não ser mais a escolha do outro, às vezes as pessoas mais próximas de nós podem desejar fazer novos percursos, podem desejar o afastamento ... o que fazer então?
É uma experiência muito dolorosa – só quem já passou sabe. Principalmente se ainda amamos e desejamos a companhia daquele ser com o qual nos acostumamos a dividir a vida... mas nem sempre há uma sincronia nos desejos – o nosso pode estar com o outro, mas o do outro não estar conosco... Nesses casos só nos resta aceitar,  por mais que doa. Não há nada que se faça, que se diga, que tenha o poder de colocar sentimento e desejo no coração de alguém – simplesmente eles existem ou não! E se somos maduros emocionalmente não vamos querer ninguém “atrelado” a  nós se não for por vontade, por desejo, por amor...
Ter o coração partido é uma das experiências mais dolorosas da vida... é uma dor que não tem tamanho, não há como mensurar. Dói tanto que a dor  chega a ser física. Mas quando os fatos assim se apresentam – a relação chegou ao fim, o outro não mais nos deseja por companhia, não mais nos elege para dividir a vida, os planos, os sonhos, a cama... a única saída é a aceitação!  De que adianta “brigar”?  Acaso um amor disputado “a tapa”, ou mantido na base do convencimento, da persuasão  é o que queremos? É claro que não. Todos queremos ser amados pelo que somos e como somos. Queremos ser  a escolha  legítima e sincera do outro – esse o amor que desejamos.
“Só podemos chegar ao novo quando desapegamos do velho”, diz-nos a frase cheia de sabedoria...
Dói praticar o desapego, somos muitas vezes como “crianças espirituais” – imaturas, egoístas, crianças que não querem “perder”... mas é necessário lidar com as perdas, com as frustrações – isso nos faz crescer, nos faz mais fortes.
Todo amor vale a pena. Não importa se foram muitos anos, se foram meses, semanas – importa a qualidade, a intensidade e a sinceridade daquilo que se viveu. E quando o amor acaba, ainda que haja sofrimento e dor (e como há!), ficam as boas lembranças  que um dia não doerão mais, ficam os aprendizados que nos preparam para um próximo relacionamento, ficam as marcas indeléveis de momentos partilhados, as associações que sempre serão feitas ligando lugares, cheiros, canções, à história por nós vivida... só não deve ficar conosco a mágoa, o rancor, o ressentimento (ressentir é “sentir de novo”, é reviver  a dor pungente muitas e muitas vezes...), por que  nos fazem muito mal. 
Quando o amor acaba, ou quando ele se transforma (muitas vezes não acaba, transforma-se em amor-amizade, amor-gratidão, amor fraternal), é importante que consigamos extrair dele o melhor, nos tornarmos pessoas melhores depois da experiência, ainda que dolorosa. Cada experiência, cada aprendizado, cada lágrima nos fortalece e prepara para algo melhor que virá.
O fim de um amor não significa somente um final triste e doloroso de algo que um dia já nos preencheu a vida de alegrias. Significa também o começo de um novo ciclo, o convite da vida a nos “desapegarmos” e seguirmos em frente, ao encontro do novo que virá... novas situações, novas experiências, novas pessoas a conhecer, novas paisagens a vislumbrar...
E tenhamos certeza: o novo sempre vem! E se soubermos passar pelo difícil período da transição, se soubermos aprender as lições que ele nos deixa, veremos que de fato, como assegura Paulo de Tarso em sua epístola aos Romanos:  “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”!