domingo, 6 de dezembro de 2015

Gratidão

 
Li certa vez que a gratidão deve ser um sentimento permanente em nossas vidas... hoje compreendo que, de fato, ela é um sentimento que quanto mais cultivamos, mais felizes nos sentimos!
Aprendi com minha mãe uma frase pequena, simples, mas de grande profundidade. Diante das dores e desafios, às voltas com qualquer dificuldade, ela sempre diz: "Aceita e agradece!"
Custei a entender o sentido profundo disto!
Agradecer por tudo, seja o que for...
Desde as mínimas coisas, como o cheiro de terra molhada, uma brisa leve que nos refresca, a simplicidade da flor, a beleza de uma paisagem (e isso torna-se ainda mais especial quando aprendemos a ver beleza nas paisagens cotidianas!)... até às conquistas mais difíceis ou mais importantes de nossas vidas!
Hoje, já tendo atravessado meio século de vida, percebo que quando agradeço ao invés de reclamar, quando me conecto com a gratidão, com o amor, com a bondade, tudo fica mais fácil, flui melhor.
Hoje sei que tudo - absolutamente tudo - vem nos trazer um aprendizado, ainda que seja uma experiência difícil... o sublime aprendizado do perdão, da tolerância,  a arte de compreender melhor as pessoas, de entender suas fragilidades (tais como as nossas - nem mais nem menos!), a grande lição da superação, a percepção de que somos mais fortes do que pensávamos!
Enfim, como diz Paulo em sua epístola aos Romanos:  "tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus"!
Há também um outro trecho dos escritos de Paulo (como são profundas suas cartas, quanta riqueza a explorar!),  desta vez quando escreve aos Tessalonicenses, em que afirma: "Em tudo dai graças, por que esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco".
Um coração grato é um coração repleto de amor... e mais ainda: de entendimento espiritual!
Sabemos que viemos de longo curso... que somos espíritos imortais numa viagem sem fim.
Aprendi com a Doutrina Espírita que, embora não consiga muitas vezes compreender as razões da dor que me visita (ou a um amigo, um familiar...), embora às vezes surja a vontade de reclamar e achar que "é demais", as razões existem - e são justas!!
Deus é Perfeito em todas as coisas... por que erraria justamente comigo??
Descobri depois de muitas lágrimas e algumas "cabeçadas" que o segredo está na resignação, está em não reclamar... está, enfim,  na velha e conhecida frase que há tantos anos ouço minha mãe dizer: "ACEITA E AGRADECE"!
Quando conseguimos de fato nos imbuir desse conceito, quando conseguimos compreender a magnitude disto, advém uma tranquilidade incrível!
E, por que temos conosco a esperança, a nossa aceitação é ativa, não passiva!
Aceito o sofrimento que me visita. Agradeço por que sei que a experiência é necessária ao meu crescimento, mas vou buscar formas de supera-lo, vou aprender maneiras de lidar com ele, vou procurar entender a lição que ele me traz... e, acima de tudo, vou ter consciência dos ganhos!
Ouvi certa vez de uma grande amiga que o câncer fez dela uma pessoa melhor... fiquei feliz em ouvir isto, pensei que minha amiga, que venceu a doença, soube tirar dela a melhor parte, soube entender que lições a doença lhe trouxe, quais os "convites" (ou seriam "intimações"?) que a vida lhe fazia naquele momento...
Ah... a gratidão!
Quão grande ela é! Quantos benefícios nos traz!
Gratidão por tudo e por todos. Gratidão pela vida, esse presente tão valioso! Gratidão por haver tanto amor em nosso caminho... e também por sabermos lidar com o desamor, com a falta de afeto, com a inveja, com todas as fragilidades tão humanas, entendendo que cada um dá o que tem e que aquilo que vem do outro é dele - pertence a ele e não a mim! - mas o que ofereço de mim para os outros, para o mundo, para a vida, é o que vai "falar" por mim, de quem eu sou, dos meus valores,  é o que demonstrará o que levo na mente e no coração!
Aprendi a duras penas a não sofrer pela incompreensão alheia!
Se o outro não me entende, se me julga mal, se não avalia bem as ocorrências, o problema está com ele, não comigo! Faço o meu melhor. Sim, posso melhorar - sempre podemos! Mas não vou me agredir, não me modificarei  para satisfazer o outro! Tenho meu ritmo, procuro crescer a cada dia, aparar arestas... enfim tento ser melhor - às vezes consigo, às vezes não. É da vida, faz parte do processo de aprendizagem.
Sou aprendiz e não me envergonho disto! 
E com a humildade de uma aprendiz que ainda está nos primeiros passos, quero dividir esta valiosa lição, que sempre ouvi dos lábios da minha mãe, que li diversas vezes em textos de espíritos tão grandiosos... mas que só quando consegui praticar de verdade é que me dei conta do quão libertadora é: por tudo dar graças, seja o que for, pela alegria ou pela dor, pela saúde ou pela doença, pela escassez ou pela fartura - por que quanto mais agradecemos, mais podemos sentir a harmonia da vida e a doce certeza de que o Amor do Pai vela por nós.
Gratidão cura e liberta!



domingo, 18 de outubro de 2015

A difícil arte de encerrar ciclos!


                      
 
Como é difícil fechar ciclos!
Ainda que eu perceba a necessidade de fazê-lo, ainda que eu observe a natureza, cheia de exemplos, de que a vida é feita de ciclos... as marés cheias e vazantes, as estações do ano, as fases da lua... a rosa que do broto transforma-se em flor exuberante, para depois perder o viço e cair da haste... ainda assim dói!
Não tem jeito. Faz parte do crescimento. Temos que aceitar.
Fico a me perguntar por que é tão doído. O que foi que não aprendi ainda... por que é tão difícil aceitar a finitude – de tudo e de todos?
Já tive em minha vida tantos ciclos... a infância cheia de risos e fantasias, a adolescência cheia de conflitos, o casamento na flor de juventude... os filhos, deliciosa experiência! O acordar de madrugada,  para ver se estão respirando...rs... As primeiras palavras, as descobertas, as festas escolares... a adolescência e seus enfrentamentos...  a primeira paixão... a idade adulta e os primeiros compromissos – cada fase tem seus encantos!
E de repente quando percebemos também nós encerramos nossos ciclos, enriquecendo-nos com experiências, algumas bem difíceis! Quando se vê, já não há mais criança em casa... o tempo passa, “cochilamos” um pouco e, quando despertamos, nossos jovens já viraram adultos e o ninho já está ficando vazio! Festas, viagens, programas, namoros, fins de semana com amigos... A casa ficou grande demais!
Tudo é tão temporário... tão fugaz! O tempo, esse “Senhor das Horas”, passa rápido demais!
Quando percebemos estamos maduros... daqui a pouco perderemos o viço... e como a rosa, um dia, deixaremos a haste.
E neste caminho vamos fechando ciclos, encerrando etapas,  despedindo-nos de pessoas queridas... Nosso olhos rasos d´água vêem partir os nossos amores... alguns para a eternidade, outros por escolha própria.
A vida segue seu curso. O rio desagua no mar – não há nada que o impeça!
Diante dessa “fatalidade” fico a me perguntar: por que é tão difícil? Qual  parte do DESAPEGO eu ainda não entendi?
Sei que somos imortais. Sei que um dia nos reencontraremos e que o tempo que vivemos hoje com nossos amores é tão importante que por isso se chama “presente” – embora muitos não se dêem conta disso... estresses desnecessários, brigas por motivos banais... e assim vamos desperdiçando o presente que recebemos!
Diante da fugacidade da vida, das coisas, das pessoas, das situações, fico tentando me colocar no alto da montanha e ver tudo isso “de cima”, de outro prisma... se nem sempre consigo é por conta das inúmeras imperfeições que carrego.
O homem sábio consegue... Sabe ver o diamante no carvão. Sabe esperar o concurso do tempo. Não se agasta, não desanima, sabe que tudo tem um “porquê”, ainda que não compreenda.
Tento aprender estas lições. Leio. Oro. Me esforço.... nem sempre consigo!
Preciso fechar alguns ciclos e preciso aceitar a finitude!
Já percebi ao longo da vida que quando a gente aceita dói menos... já perdi amigos que jamais pensei que se afastariam, já vi ir embora um grande amor, por escolha própria... já vi a traição de perto, de quem menos esperava! Já fui desvalorizada, prejudicada... E percebi que aceitar os fatos é o primeiro passo para livrar-nos da dor. Aprendi que as pessoas são como são e cada um dá o que tem. Aprendi que o erro sempre foi meu, por criar expectativas, por não enxergar o outro como ele era... por não compreender a natureza humana!
De cada episódio tirei uma lição... algumas se repetiram para que eu pudesse aprender direito! Rs
Aceitar.... aceitar... e aceitar!
É como diz minha mãe, do alto dos seus oitenta e sete anos: “Aceita e agradece!”
Penso em todas estas pessoas sofrendo com a guerra. Irmãos de caminhada que de repente, sem outra escolha possível, estão sendo obrigados a encerrar ciclos tão importantes... a deixarem para trás um lar, familiares, amigos, lugares queridos, referências de uma vida inteira! Me envergonho por sofrer por tão pouco!
Confio no Deus da Vida. Naquele que é o princípio e o fim. O alfa e o ômega. Que tudo sabe, que tudo vê, a tudo preside.
E é essa confiança que me move. Que me anima a levantar a cada dia, ainda que cansada, às vezes desanimada, às vezes triste... há um porquê, penso eu – e é justo! E isso me basta.
Fechar ciclos. Encerrar fases. Re – começar!
As lágrimas? Tenho fé que servirão para adubar o jardim dos meus sonhos... onde ainda nascerão muitas flores!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

De repente cinquenta!






De repente cinquenta!
O tempo passou rápido demais...  ainda vejo em mim a criança que brincava com bonecas, que catava  conchinhas à beira de uma lagoa... ainda vislumbro a adolescente insegura,  descobrindo a poesia e sonhando com o magistério...  a jovem professora cheia de ideal e amor! Ainda me lembro da alegria do primeiro emprego... e de todos os que vieram depois! Lembro o deslumbramento do primeiro amor... o segundo amor... o casamento, os filhos – doces presentes que a vida me deu!
E olho para trás e percebo que a vida fluiu tão ligeira!  Apesar disso, cada conquista, cada dor, cada dificuldade, cada alegria... tudo foi tão “saboreado”!
Cinquenta anos... meio século de pequenas alegrias que se renovam a cada dia!
Experiências que consolidaram a minha fé, que me fizeram mais madura, que me trouxeram tantas reflexões, tantas vivências, tantos aprendizados... e a certeza de que ainda me sinto “criança”,  ávida por conhecer tantas coisas, com tanto a aprender...
E se no “invólucro” houve algumas perdas,  no conteúdo houve tantos ganhos!
A maturidade nos traz paz de espírito. Não a paz da ausência de lutas, de desafios, de dores... mas a paz que se alcança quando se tem mais paciência para esperar os resultados, quando se aprecia as pequenas belezas do caminho, quando se tem mais compreensão e menos julgamentos.
Aos cinquenta já é mais do que hora de se fazer um “balanço” – de se contabilizar acertos e erros, onde triunfamos e onde falhamos, onde poderíamos ter nos dedicado mais, onde exageramos, o que não avaliamos bem, o que deixamos pelo caminho e que não deveríamos ter deixado... alguns sonhos, projetos, ideais. Também é um bom momento para nos perguntarmos o que precisamos mudar, o que precisa ser reconstruído, que mudanças precisamos implantar para que a vida fique ainda melhor, mais leve, mais prazerosa... por que aos cinquenta, se conseguimos aprender algo, se “as fichas já caíram”, sabemos que a vida é para ser bem vivida, curtida a cada momento... sabemos que a vida é uma grande chance, oportunidade valiosa que não vale desperdiçar!
E quando nos damos conta, entre alegria e susto, que já se passou meio século, percebemos que uma urgência se impõe: ser feliz!
E ser feliz, para mim, é estar conectada comigo... é saber o que quero, o que me dá prazer, alegria, satisfação... é poder enfrentar os desafios de cabeça erguida, sabendo que estou fazendo o meu melhor!
Entre os grandes “ganhos” que a maturidade me trouxe destaco a enorme vantagem de ser mais generosa comigo mesma... de saber quais são os meus limites e que não preciso excedê-los para provar nada para ninguém. Minha luta continua sendo comigo mesma... e a prestação de contas com Deus! Por isso hoje, muito mais do que aos trinta ou quarenta, tenho a ousadia de ser eu mesma! De expor minhas opiniões, de ser autêntica e rir sem medo de gargalhar, de dançar do jeito que eu quiser (não fazia isso quando jovem! rs), de ser quem eu sou sem preocupar-me com o que vão pensar! De colocar a roupa que tenho vontade, sem pedir opinião a ninguém! De me portar diante da vida segundo os padrões que eu construí com as reflexões que fiz ao longo dos anos... Também aprendi a rir de mim mesma! A me perdoar pelos deslizes, a fazer piada das minhas mancadas... por que escolhi o bom humor como “companheiro de viagem”, e por que me compreendo aprendiz num processo em que o erro faz parte da aprendizagem.
Hoje sei expor, muito melhor do que antes, o que me desagrada, o que para mim avança o sinal do bom senso, da ética, do respeito... mas aprendi também (e esse é outro grande “ganho”) que cada um dá o que tem, que as pessoas são muito diferentes e não posso esperar que elas mudem ou que vejam o mundo pela minha ótica – só posso mudar a mim mesma, jamais ao outro.
Hoje estou mais tolerante comigo mesma... e me sinto muito melhor do que há anos atrás!
Aprendi a respeitar as diferenças... e a compreender que, definitivamente, cada um dá o que tem!
Sei das minhas dificuldades, mas descobri que não preciso fazer “queda de braço” com elas... rs
Sei que tudo e todos tem “dois lados”... e eu posso escolher por que lado enxergar as coisas!
Me aceito como sou – o “pacote” completo! E posso dizer que fiz as pazes comigo mesma.
Entendo o ser humano como um projeto de perfeição – e como todo projeto, há que aperfeiçoar-se, mudar aqui e ali, tentar melhorar sempre...
Na busca dessa perfeição surgem derrubadas e reconstruções, remodelagens, ousadias experimentais... rs
O melhor de tudo – o mais interessante e gostoso – é que no íntimo, bem lá no fundo, não sentimos a idade que temos! Podemos nos deliciar com o melhor que a maturidade nos trouxe e manter a alegria juvenil, a esperança, o vigor (não do corpo, mas da alma!), a determinação... qualidades que são do espírito imortal que somos, e que com o passar dos anos, se aprendemos bem as lições, só fica melhor!
E que venha a versão 5,1!